22 de fev. de 2009

Guia do Carnaval segundo Veríssimo

Guia do Carnaval
Luís Fernando Veríssimo

O turista que chega para assistir ao nosso Carnaval pode ter alguma dificuldade em entender o que está vendo e ouvindo nas ruas, nos bailes, nas transmissões de TV etc. e perderá muito do significado da nossa maior festa popular. Por isso estou republicando este pequeno guia para sua orientação e um glossário com as principais palavras e frases que ele ouvirá durante sua estada.


Atenção, turista.

Para começar, o que é “Carnaval”?
Bem, o Carnaval (pronuncia-se car-nah-val) já existia na Europa quando o Brasil foi descoberto, só que com roupa. Ele veio nas caravelas portuguesas junto com o nosso descobridor, Pedro Alvares Cabral (pay-dro al-va-rays ca-brawl), e aqui incorporou elementos nativos como bateria, baianas, bicheiros, cambistas e, claro, a principal contribuição do Novo Mundo ao rito milenar, a miçanga (miss-ang-ah). No calendário cristão, como se sabe, o Carnaval é a festa do “adeus à carne” que precede a Quaresma. No Brasil é a mesma coisa, só que a gente dá adeus à carne, dá adeus, mas ela não vai embora.

Quanto dura o Carnaval?
O Carnaval é um tríodo de quatro dias: Sexta, Sábado, Domingo, Segunda e Terça. Tem uma vez por ano, menos na Bahia, onde o atual Carnaval é o de 1948, que ainda não terminou.

O que são “escolas de samba”?
As escolas de samba (“samba schools”) são escolas públicas que, com a falta de apoio dado à educação no Brasil, foram obrigadas a buscar outras fontes de renda e hoje vivem de vender fantasias para turistas e depois desfilar para o turista não pensar que foi logrado.

Eu posso desfilar numa “escola de samba” sem saber sambar?
Sim, mas aí terá que ser Madrinha da Bateria. Não, Nigel, você não.

Como se chega ao Teatro Municipal?
Estudando, estudando muito.

Não, quero dizer para o baile.
Não existe mais baile do Municipal. Nem a revista Cruzeiro, nem o Evandro Castro Lima, nem lança-perfume Rodo e, olha, eu mesmo já estou desaparecendo de um lado.


Eis algumas expressões que você, turista, ouvirá durante os folguedos (fowl-gay-dos):

Oba (oh-bah) – Palavra de origem nativa. Ouvida pela primeira vez quando os tupinambás viram seu primeiro europeu, que em seguida comeram. Desde então ficou como manifestação prazerosa da expectativa de comer alguém ou alguma coisa, mesmo hipoteticamente (he-po-tay-etc.).

Epa (eh-pah) – O oposto de “oba”. Usada por quem ouve um “oba” e se apressa a esclarecer que não pode ser com ele.

Evoé! – “Oba!” em Juiz de Fora.

Ai! - Expressão de dor. Como “ouch” em inglês, “ai-o” em italiano, “merde” em francês e “grossenwienerzschzipel” em alemão.

Ui! – Expressão dúbia (doo-bia). Tanto pode ser de dor como de alguém cuja espinha dorsal está sendo riscada sugestivamente com um picolé. De qualquer maneira, mantenha-se a distância.

É um assalto! – Significa que você está sendo assaltado, por um meliante (may-lee-anti) ou por um político. Dá para distinguir o político porque, antes, ele pede o seu voto.

Polícia! – Termo de retórica, com pouca utilidade real.

E aqui está um pequeno dicionário com frases práticas que poderão ser úteis ao turista no Carnaval, caso ele se perca do guia:

Where is the american (ou italian, ou french etc.) consulate? – Estou apertado. Deve ter sido o angu. Onde tem um toalete por aqui?

How much? – Quanto?

WHAT?! – Tá doido!

No, I do not want to hold your ganzá – Manera, pô.

Do you take dollars? – Quer casar comigo?

Vous êtes très jolie – Quanto?

Voglio conoscere il vero Brasile – Bota uma pinga aí

Help! – Ziriguidum (zee-ree-gui-doom)!


2 comentários:

Vítor Torrez disse...

xD
Muito bom o texto!
Só o Veríssimo para demonstrar o que é o carnaval com tanta ironia =D
Amo muito tudo isso xD

Abraços

Anônimo disse...

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